Esta mesa propõe pensar os diversos topos narrados e performados através da (e pela) literatura diante dos desafios coletivos (auto)impostos pelo Antropoceno, ou Capitaloceno (Moore, 2022). Se sua outra alcunha ou faceta toma a plantation como mecanismo de reprodução em larga escala das homogeneidades, o que poderiam fazer as literaturas como forma de variação infinita de diversidade e transformação? Se por um lado, proliferam narrativas de futuro que são alimentadas pela produção científica sobre o desenho de cenários mais ou menos catastróficos, por outro fomentam-se imagens de futuros possíveis. Se o inviável nos tornamos, os possíveis são os outros. Inspirados na ideia de imaginários sociotécnicos (Jasanoff e Kim, 2015), trataremos da expressão literária como rastros imaginativos do-que-temos-porvir. Uma das derivas desse imaginar-com/sonhar-com é pensar o lugar da ficção, como um praticar a invenção, no âmbito do campo CTS. As múltiplas expressões artísticas ocupam espaço cada vez destacado na tradição CTS, não apenas como artefatos representacionais das descobertas científicas e tecnológicas, mas como dispositivos materiais e simbólicos de ruptura das dicotomias modernas dos projetos científicos, tais como palavra e corpo, sujeito e objeto, natureza e cultura. A partir de onde fixamos o olhar, o aprendizado sobre como responder à “intrusão de Gaia” demanda uma articulação caleidoscópica entre as ciências e os saberes “não científicos” (Stengers, 2015). Assim, aqui partimos de experimentos narrativos disruptivos que possibilitam repovoar o antropoceno com agências outras e alternativas menos redundantes ao projeto moderno.
JASANOFF, Sheila; KIM, Sang-Hyun. Dreamscapes of modernity: Sociotechnical imaginaries and the fabrication of power. Chicago, IL: University of Chicago Press, 2015.
MOORE, Jason W. Antropoceno ou Capitaloceno. Natureza, história e a crise do capitalismo. São Paulo: Editora Elefante, 2022.
STENGERS, Isabelle. No tempo das catástrofes-resistir à barbáreie que se aproxima. São Paulo: Cosac Naify, 2015.
Daniela Alves de Alves (Coordenadora) | Universidade Federal de Viçosa |
Guilherme José da Silva e Sá (Expositor) | Universidade de Brasília |
Renzo Taddei (Expositor) | Universidade Federal de São Paulo |
Daniel Alves de Jesus Figueiredo (Expositor) | Universidade Federal de Minas Gerais |