Resumo: A constituição da modernidade é indissociável das narrativas científicas que defendem a universalidade como princípio da produção de conhecimento, de onde deriva a concepção de tecnologia em sua acepção epistêmica e em sua concretude sociotécnica. Como consequência, a incorporação técnica ocidental nos corpos e territórios do Sul global tornaram-se um mecanismo sistemático de violência e subalternização dos saberes tradicionais, locais, populares e dissidentes. As formas de resistência de grupos subalternizados envolvem historicamente múltiplas estratégias que perpassam tanto a preservação de saberes e identidades quanto a apropriação técnica e de conhecimentos em novos arranjos sociotécnicos. Diante de tais balizadores e das atuais transformações tecnoprodutivas, este grupo de trabalho se constitui em um espaço-tempo para abordar as relações entre as tecnologias digitais, incluindo código, infraestrutura e sua governança, como dispositivos de dominação corpórea, epistêmica e territorial na América Latina, bem como as formas de resistência em suas múltiplas configurações na região. As práticas decoloniais indígenas, mantidas há séculos no continente, são o exemplo máximo de tal resistência, à qual se somam a lutas das populações negras, mulheres, LGBTQ+, pessoas com deficiência, sob vulnerabilidade social, entre outras. A despeito das hegemonias tecnoepistêmicas, os estudos críticos em Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) surgem como possibilidade de reposicionamento das pesquisas acadêmicas de modo comprometido com um futuro pluriversal que respeite as múltiplas cosmotécnicas e o diálogo simétrico com diversos saberes. Em consonância com tal horizonte, esse GT estabelece entre seus objetivos: Proporcionar um espaço de debate e conexões com foco nas possibilidades do (re)fazer tecnocientífico engajado e em diálogo com a pluriversidade de saberes e tecnologias; Reimaginar código, infraestrutura e governança das tecnologias digitais, hoje ubíquas na mediação das relações humanas e não humanas; Socializar experiências, pesquisas e ações que tenham como escopo a desconstrução de relações digitais hegemônicas ou o rearranjo do digital dentro de relações sociotécnicas contra-hegemônicas; Partilhar saberes e experiências sobre as singularidades das técnicas latino-americanas na encarnação do digital, evidenciando as relações entre técnica-território-corpo.
Coordenadores: Carolina Batista Israel (UFPR), Fernanda R. Rosa (Virginia Tech), Diego Vicentin (UNICAMP).
Debatedor: Leonardo Ribeiro da Cruz (UFPA)
17/09/2025 – Sessão 01
- Horário: 14:00 – 16:00
- Local: Mirante do Rio – sala 207 (2o andar)
A Alienação Cosmotécnica e a Tecnicidade do Espectro Sul: por um ecossistema complementar de comunicação social digital na América Latina – Thiago Oliveira da Silva Novaes (UFF)
A internet vem se consolidando como tecnologia universal de acesso à digitalização. Embora o acesso à rede se dê de maneira bastante desigual, especialmente nos países do sul global, os esforços para garantia de direitos fundamentais se voltam, primordialmente, para os temas de educação midiática e, mais recentemente, para regulação das plataformas. A presente pesquisa tem por objetivo apresentar o conceito de cosmotécnica, de Yuk Hui, à luz da noção de tecnicidade, desenvolvida na filosofia da técnica de Gilbert Simondon, argumentando que a primeira se mostra uma versão bastante empobrecida e alienada da segunda: enquanto a cosmotécnica reúne aspectos morais e cosmológicos de cada cultura, a tecnicidade deve ser aplicada tanto à concretização dos objetos quanto à decisão ética em utilizá-los. Assim disposta, a investigação se volta ao tema da digitalização dos meios considerando que vários países da América do Sul realizaram reformas de mídia quando da ascensão de governos populares nas últimas décadas, baseando-se na premissa da complementaridade, dividindo o espectro radioelétrico em três partes. Finalmente, o intuito é contrastar a apropriação técnica da internet em territórios como a Amazônia, realizada por meio de satélites, que geram a possibilidade de circulação de “conteúdos cosmotécnicos”, à luz da autonomia que o rádio digital possibilitaria para erigir uma tecnicidade não alienada na digitalização da comunicação.
Dissidências tecnológicas e pluralidade epistemológica: outros possíveis em ensino-pesquisa-extensão – Marta Mourão Kanashiro (Universidade Estadual de Campinas)
Esta proposta de apresentação oral alinha-se a um dos objetivos do GT 7 Código, corpos e territórios: colonialismo digital e resistência na América Latina, a saber, o de socializar experiências, pesquisas e ações que tenham como escopo a desconstrução de relações digitais hegemônicas ou o rearranjo do digital dentro de relações sociotécnicas contra-hegemônicas. Neste sentido, a presente proposta caracteriza-se como relato de ações realizadas na Universidade Estadual de Campinas, em maio de 2025, para a articulação de pesquisadores, professores, estudantes, organizações e movimentos sociais em especial, de representantes dos movimentos negro, indígena e de dissidências tecnológicas.
O conjunto de ações nomeado como “Articulações de epistemologias negras, indígenas e tecnologias dissidentes” foi desenhado a partir da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e teve como diretrizes fundamentais: 1) a interação dialógica, 2) o impacto na formação de estudantes, 3) as transformação sociais, especialmente a partir da articulação de movimentos sociais em torno do tema das tecnologias de informação e comunicação (TICs). A perspectiva de abordagem das TICs, parte da crítica a um desenvolvimento tecnológico baseado em soluções universalizantes, que tem como norteadores sua escalabilidade e repetibilidade em detrimento de necessidades, demandas e saberes específicos, sejam eles locais, ancestrais ou atravessados por diferentes marcadores sociais da diferença.
A bifurcação de transições sociotécnicas: das tecnodistopias de dominação às tecnologias do Bem Viver – Carlos Victor Correa Pontes (UFPA – Universidade Federal do Pará), Leonardo Ribeiro da Cruz (UFPA)
O presente trabalho investiga como a produção contemporânea de tecnologias digitais, plataformais e originária do Norte Global, deriva de uma cosmovisão de dominação que interfere nas relações de populações localizadas no Sul Global, especialmente em comunidades e povos tradicionais. A partir da leitura de Yuk Hui (2021), esta pesquisa discute como a concepção instrumental da produção tecnológica contemporânea carrega pressupostos ontológicos e epistemológicos que impõem práticas e costumes aos usuários, com visões de mundo que os distanciam de sua cosmotécnica e da resolução de problemas locais. Portanto, este estudo pretende abordar uma compreensão crítica das tecnologias digitais – em especial em relação à sua centralidade, ubiquidade e hegemonia – e discutir a tecnodiversidade como orientação para a produção de tecnologias do Bem Viver (Acosta, 2016), a partir da diversidade de cosmovisões, de valores culturais e ambientais, que viabilizam a bifurcação de novos futuros tecnológicos.
Pluralidades cosmológicas na relação entre arte e tecnociência – Maria Cortez Salviano (UNICAMP)
Que cosmologias podem se fazer presentes em um dispositivo tecnológico? Que formas de perceber e vivenciar o mundo a arte faz emergir? Por meio da análise de alguns casos em que a arte contemporânea dialoga com os modos de funcionamento de sistemas de Inteligência Artificial, este trabalho pretende explorar questões que surgem no movimento de tornar visível o invisível – sejam dados, existências, planos de realidade ou sensações. Neste sentido, busca-se evidenciar que as possibilidades de pensamento, percepção e criação são fortemente marcadas por uma cosmologia específica, assim como explorar o quão parcial pode ser um modo de conhecimento que se apresenta como universal. Ao fazer isso, o objetivo é destacar a pluriversidade de relações com o mundo, contribuindo para abrir espaço para uma gama mais ampla de possibilidades epistemológicas no olhar para a arte e a tecnologia. Para tanto, este trabalho propõe analisar criações de artistas contemporâneos latino-americanos que exploram questões relacionadas à mineração de dados e à identificação, reconhecimento e geração de padrões. Esta proposta é parte de uma pesquisa de doutorado em andamento que combina trabalho empírico e investigações teóricas, inspirada em (mas não se limitando a) questões levantadas por acadêmicos como Gilbert Simondon, Yuk Hui e Matteo Pasquinelli.
18/09/2025 – Sessão 02
- Horário: 14:00 – 16:00
- Local: Mirante do Rio – sala 206 (2o andar)
Expressões LGBTQIA+ no Ambiente Digital: Conflitos e Articulações entre Política, Religião e Sociedade – Lucas Da Silva Ribeiro (UNITAU)
A pesquisa parte de uma observação clínica que identificou uma relação distinta entre pessoas LGBTQIA+ e os discursos religiosos e políticos, em contraste com indivíduos heterossexuais. No Brasil, onde instituições religiosas exercem grande influência, são frequentes os discursos que limitam as vivências dessa população. O estudo tem como objetivo analisar as percepções de usuários de redes sociais sobre essas vivências, a partir da presença de discursos religiosos e políticos. Adota-se uma abordagem qualitativa e exploratória, fundamentada na análise crítica do discurso, com base em dez matérias digitais publicadas em rede social amplamente utilizada. Foram considerados os conteúdos das publicações e os comentários dos usuários. Os resultados revelam que muitos comentários reproduzem lógicas transfóbicas, binárias, religiosas e supremacistas, com pouca sensibilidade ao sofrimento humano. Por outro lado, observa-se também um uso do discurso religioso como ferramenta de acolhimento e defesa da diversidade. Conclui-se que as percepções sobre as vivências LGBTQIA+ nas redes sociais são diversas e contraditórias, oscilando entre a intolerância e o reconhecimento da pluralidade, refletindo as tensões ideológicas presentes no espaço digital.
Hipervisibilidade de corpos negros: uma análise sobre a eficiência do uso de reconhecimento facial na segurança pública – Maria Vitoria Pereira de Jesus (UNICAMP)
Nos últimos anos, têm-se evidenciado uma ampliação do uso de reconhecimento facial pelas cidades brasileiras, que ressaltam a sua eficiência na prisão de criminosos e foragidos. Este trabalho tem como objetivo apresentar uma análise sobre a eficiência do uso de Reconhecimento Facial na segurança pública, que cada vez mais tem sido adotado para auxiliar nas atividades policiais de busca e apreensão de criminosos e foragidos, e fortalecer a segurança em espaços públicos. Na cidade de São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes tem ressaltado o número de prisões feitas através da tecnologia. Já no Rio de Janeiro, o governador Claudio Castro tem salientado a sua importância no combate ao crime. Os sistemas de Reconhecimento Facial são conhecidos por sua agilidade e eficiência na identificação de criminosos e foragidos, podendo assim, auxiliar nas atividades de busca e apreensão feitas pela polícia. No entanto, no Rio de Janeiro, um levantamento feito pelo CESeC identificou que 90% das pessoas presas a partir do uso de Reconhecimento Facial são negras. Sendo assim, o que se entende pela eficiência do uso de Reconhecimento Facial na segurança pública? Nossas análises revelam que a eficiência dessa tecnologia não pode ser entendida apenas em relação à quantidade de pessoas presas, pois sendo a maioria negra, uma vigilância vista como eficiente, na verdade, compreende uma vigilância racializada, na qual os indivíduos negros são não só os mais vigiados, como também os mais afetados por resultados cujos vieses corroboram imaginários e preconceitos sobre possíveis suspeitos e criminosos.
Mediação algorítmica como um protótipo político-metodológico: das discriminações algorítmicas às possibilidades de resistência – Rafael Gonçalves (Unicamp)
Como conceber possibilidades de resistência envolvendo tecnologias digitais de uma perspectiva centrada na agência algorítmica? Como extrapolar a caracterização da ação dos algoritmos na sociedade, explicitando suas potências, para além de seus vieses despotencializantes? Este texto busca construir uma noção analítica e prática, um protótipo metodológico e político, a partir do qual descrever sócio-tecnicamente a ação dos algoritmos. O seu objetivo é prover uma conceitualização que dê conta tanto dos casos de discriminação algorítmica, modos de operação de algoritmos que reforçam as assimetrias sociais, quanto das possibilidades de resistência, quando algoritmos desafiam a norma estabelecida em sua ação no mundo. Para isso, apresento a problemática do “viés”, mostrando limites dessa abordagem e casos em que o uso dessa categoria não ajuda a explicar assimetrias, como em alguns casos de sexismo e racismo algorítmicos. Proponho o conceito alternativo “mediação algorítmica”, argumentando que ele provê vantagens do ponto de vista teórico e prático e utilizando-o para descrever alguns casos iniciais de algoritmos operacionalizados para a resistência. Ou seja, este trabalho se apoia em casos concretos para derivar preliminarmente a noção de mediação algorítmica, tanto em seu sentido teórico, quanto prático. Nesse sentido, este texto se apresenta como a prototipagem da ideia mesma de mediação algorítmica, que pode ser mobilizada para a descrição da agência dos algoritmos, bem como problematizada e contestada, a partir de sua efetividade operacional empiricamente constatada.
Corpo e gênero: a objetificação do corpo no espaço religioso/ Social – Danilo Barbosa Ferreira (UFPA)
Estudar o corpo dentro de um espaço religioso é diferente do que estudá-lo tendo qualquer outro espaço social como referência, visto que, nestes ambientes, o corpo está posto e submisso a todas as tradições, culturas e códigos simbólicos que aquele lugar lhe impõe. Esta obra tem por objetivo analisar a dinâmica social simbólica que dá subsídio às tradições religiosas dentro do Tambor de Mina, que delimita o corpo feminino dentro de uma casa de santo. Frente às múltiplas vertentes religiosas dentro das tradições do culto de Mina, analisamos apenas os costumes da casa do Terreiro de Mina Dois Irmãos, que historicamente tem apenas sacerdotisas mulheres, mas possui diversas doutrinas que não permitem que a mulher desenvolva algumas atividades dentro da casa. Dentro das tradições afro-religiosas, especialmente do Tambor de Mina, o corpo feminino é marcado pelo poder, mas também pela limitação para desenvolver algumas demandas religiosas. Para alguns críticos, essas coibições chegam a ser a “marca da influência do patriarcado dentro das casas de santo”; porém, esse tipo de leitura social se torna extremamente limitada e até conflitante quando essas pessoas se deparam com um espaço religioso onde, historicamente, a liderança feminina é predominante em mais de um século de tradição. Sendo assim, diante deste assunto religioso e social, é que se fazem necessários estudos que desenvolvam uma análise estrutural da objetificação do corpo feminino dentro do espaço religioso.
19/09/2025 – Sessão 03
- Horário: 13:30 – 15:30
- Local: Mirante do Rio – sala 206 (2o andar)
Jaguaribara de ontem e de hoje: uma netnografia sobre apropriação tecnológica e preservação da memória (digital) em contexto de atingidos por barragens – Francisco Cavalcante De Sousa (UERJ)
Em uma sociedade cada vez mais plataformizada, a memória coletiva, moldada por experiências informacionais e tecnológicas contemporâneas, tornou-se central no debate sobre direitos digitais e culturais. Como preservar arquivos, vivências e narrativas sociais em contextos de migração forçada para plataformas privadas? Como comunidades tradicionais, historicamente marcadas pela resistência, podem se apropriar desses meios com autonomia e soberania digital? Este artigo analisa de que modo a comunidade de Jaguaribara (CE), atingida pela construção da Barragem do Castanhão, tem se apropriado de recursos digitais para a preservação de suas memórias e reconstrução de vínculos identitários, em meio à desterritorialização compulsória vivida entre 1985 e 2001. Após décadas de desmobilização política, observam-se, hoje, práticas de resistência simbólica e tecnológica por meio de ambientes digitais, como o grupo “Jaguaribara de ontem e de hoje”, criado por moradores no Facebook. Este trabalho busca compreender como esse ciberespaço tem sido utilizado para recontar histórias, resgatar laços sociais e tensionar a lógica dominante das plataformas. Para isso, adota-se uma abordagem qualitativa com base na netnografia, por meio de observação participante e análise do conteúdo publicado no grupo. Considera-se que a presente pesquisa pode contribuir para reflexões sobre memória digital, soberania tecnológica e apropriação comunitária das redes, tomando Jaguaribara como estudo de caso para pensar resistências locais em ambientes globais mediados por plataformas.
Plataformas globais, lutas locais: decolonialidade, vozes indígenas e ativismo digital no cenário de esports do Brasil – Tarcízio Pereira Macedo (UFF)
Esports, termo usado para se referir aos esportes eletrônicos, emergiram como um espaço crucial para jogadores indígenas no Brasil, especialmente a partir do jogo Free Fire, disponível para dispositivos móveis. A crescente popularização de smartphones permitiu a formação de equipes indígenas em diversas regiões do país, criando novos espaços de resistência e visibilidade digital. Este estudo etnográfico explora as práticas de conhecimento e as abordagens de jogo de jogadores de quatro grupos indígenas brasileiros: Apunirã, Ava-Guarani, Guarani e Xakriabá. Com base na etnografia multissituada experiencial e na História Oral decolonial, a pesquisa analisa como esses jogadores negociam suas identidades e reivindicam direitos indígenas dentro do ecossistema de esports, tradicionalmente orientado para atores não-indígenas. Argumenta-se que jogadores indígenas utilizam os esports como ferramenta de ativismo digital, desafiando estereótipos e denunciando ameaças políticas, como a tese do “marco temporal”, que sustenta a Lei 14.701/23. Por meio de plataformas de esports e redes sociais digitais, eles ampliam sua luta por direitos territoriais e justiça ambiental, demonstrando que a participação indígena na tecnologia não contradiz suas identidades culturais. Em vez disso, a juventude indígena está redefinindo ativamente o espaço de jogo e dos esports em suas comunidades, usando os jogos como resistência decolonial ao apagamento epistêmico, afirmar a presença indígena (política e cultural) nos espaços tecnológicos e desafiar as estruturas coloniais que continuam a marginalizá-los.
Conectividade, Poder e Colonialismo Digital: A expansão da Starlink em Territórios da Reforma Agrária – Kauã Arruda Wioppiold (UFSM), Ane Carine Meurer (UFSM)
O avanço da conectividade no espaço rural está relacionado a novas formas de controle territorial, captura de dados e reconfiguração das dinâmicas sociais e econômicas. Ao considerar que as tecnologias não são neutras, o fenômeno do colonialismo digital se expande também sobre territórios da reforma agrária. Através desta problemática, este trabalho possui como objetivo geral analisar a presença crescente da empresa Starlink, provedora de internet via satélite, nesses territórios. Através de levantamento de dados, entrevistas semi-estruturadas e observações empíricas em assentamentos na região central do Rio Grande do Sul, busca-se compreender de quais formas a conectividade via Starlink tem se expandido, quais políticas públicas estão promovendo esse avanço e como os/as assentadas percebem a chegada dessa infraestrutura tecnológica. Ao problematizar o avanço da conectividade sob uma lógica tecnocrática, a análise procura entender como determinadas políticas públicas, especialmente no âmbito da Educação do Campo, vêm contribuindo para uma crescente dependência de plataformas privadas, cujos interesses sobre o território se mostram, muitas vezes, conflitantes com os defendidos pelos movimentos sociais. Por fim, discutem-se os riscos sociais e políticos associados a essas novas formas de poder, alertando para processos de subordinação que ocorrem sem a devida criticidade e participação das comunidades envolvidas, o que torna cada vez mais urgente expandir o debate sobre soberania digital também em espaços de resistência ao capitalismo agrário.