Coordenadores: Marcelo Fornazin (Fundação Oswaldo Cruz), Palloma Valle Menezes (UERJ), Pedro Henrique da Costa Braga (UNIAN-RJ)
Resumo: Proliferam na atualidade artefatos e tecnologias que prometem potencializar os efeitos e a articulação das ações de movimentos da sociedade civil. Desde smartphones e aplicativos, passando por redes sociais e moedas digitais, até placas para geração de energia solar, diversos são os exemplos associados a promessas tecnológicas de maior alcance, visibilidade, esperança de sobrevivência e sustentabilidade financeira. Contudo, com essas “novidades tecnológicas” chegam também entidades muitas vezes estranhas à cosmologia dos movimentos sociais, tais como softwares, código-fonte, servidores, plataformas, blockchain, wikis etc. Que oportunidades essas tecnologias oferecem para repensar categorias como dinheiro, educação, energia e dados? Que tipos de dependências ou independências elas criam? Quais desafios de governança impõem? Que formações passam a ser necessárias? Como são produzidas e utilizadas informações nesses sistemas? E como os movimentos sociais negociam identidades, preferências e proteção contra a vigilância? Investigar essas questões exige transitar entre usuários, técnicos, movimentos sociais e governo. Esse percurso também provoca reflexões sobre o papel das universidades, centros de pesquisa e laboratórios, e aponta para a construção de novas articulações sociotécnicas por uma sociedade mais justa e solidária. Consideradas essas breves provocações, este GT pretende acolher trabalhos que discutam as possíveis mediações atualmente presentes nas relações entre movimentos sociais e tecnologias. Interessa-nos desde a problemática convivência com “mágicas importadas” — tecnologias prontas e parcialmente indecifráveis — até experiências inovadoras de criação de artefatos e bens comuns por redes organizadas pelos próprios movimentos. Assuntos de interesse incluem: desenvolvimento e uso de tecnologias por movimentos sociais; formas de governança tecnológica baseadas em bens coletivos; modelos descentralizados, redes comunitárias e redes federadas; produção cidadã de dados; atuação extensionista no desenvolvimento tecnológico; e tecnologias voltadas ao enfrentamento das desigualdades sociais.
18/09/2025 – Sessão 01
- Horário: 14:00 – 16:00
- Local: Mirante do Rio – Sala 201 (2o andar)
- Debatedor: Luiz Arthur Silva de Faria (PESC/COPPE/UFRJ)
Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS): Agroecologia frente ao desenvolvimento tecnológico – Ronaldo Pereira Souza (UFSCAR)
O artigo apresenta uma reflexão entre o campo Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) e os Territórios de Reforma Agrária Popular (TRAP), considerando a agroecologia como uma tecnologia social (TS). Trata-se do resultado de uma vivência realizada no Acampamento Capão das Antas, em São Carlos (SP), durante a Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA 2025), organizada pelo Núcleo de Pesquisa e Extensão Rural (NuPER/UFSCar). O objetivo é compreender como o acampamento articula saberes tradicionais, inovações tecnológicas e práticas sustentáveis, visando integrar o campo CTS aos debates socioambientais e promover um desenvolvimento rural mais justo e inclusivo. A metodologia combina revisão bibliográfica com análise decorrente da observação participante, possibilitando uma compreensão das inter-relações entre o campo CTS e a agroecologia no contexto do acampamento. Os resultados parciais da investigação indicam que o campo CTS oferece ferramentas analíticas e práticas essenciais para o fortalecimento das experiências agroecológicas, contribuindo para a consolidação de uma reforma agrária ambientalmente sustentável e socialmente inclusiva. Conclui-se que uma abordagem contextualizada da CTS, aplicada à agroecologia e articulada com instituições públicas, privadas e com movimentos sociais do campo, é essencial para enfrentar os desafios contemporâneos. A formação de profissionais e pesquisadores com uma visão integrada entre CTS e agroecologia é fundamental na construção de alternativas sustentáveis nos territórios rurais, contribuindo para um futuro sustentável.
Criação de espaços e redes livres de organização de movimentos sociais – Plantaformas e Onda.Social – Guilherme Flynn Paciornik (UNICAMP), Jader Ribeiro Gama (UFOPA)
Conforme a internet reconcentrou-se em cinco grandes empresas, principalmente no que diz respeito à sistemas operacionais, mecanismos de busca e plataformas digitais de redes sociais, os movimentos passaram não só a ter que reinventar seus repertórios de ação coletiva (McAdam, Tarrow e Tilly, 2009), se adaptar a estas e as combater e criar alternativas. Este trabalho busca discutir duas iniciativas de criação de espaços de comunicação e organização alternativos às big techs: a Plantaformas e a Onda.Social. Ambas são construídas em software livre e mantidas e desenvolvidas por movimentos. A Plantaformas, mantida pelo coletivo Cosmotécnicas Amazônicas, é uma plataforma de decisão política coletiva de movimentos sociais que conta com mais de 7000 usuários e possuia em 2025 6000 usuários, 53 assembleias e 35 conferências ativas; já a Onda.Social é um conjunto de instâncias do Fediverso em adaptação ao público e aos problemas brasileiros, a qual nesta data havia uma instância teste em funcionamento (organica.social). Ambas são hospedadas e modificadas em seu software, que é livre, no Brasil, e são iniciativas de soberania digital, terra preta digital (Gama, 2021), territórios digitais livres e, de formas diferentes, buscam responder ao colonialismo digital, à alienação técnica (Simondon, 1958), à disparidade técnica digital (Paciornik, 2021), à um regime proprietário de visibilidade e criação de verdades e ao colapso de contextos (Boyd, 2011). De formas distintas, possuem dificuldades de desenvolvimento, de financiamento e de visibilidade, bem como belezas sociotécnicas próprias.
Análise sociotécnica da agência do microcrédito no Banco Comunitário do Preventório – Marcos Rodrigo Maciel Ferreira (UFRJ)
Para que o microcrédito do Banco Comunitário do Preventório (BCP) funcione de forma eficaz, é necessário o envolvimento articulado de diversos atores humanos e não humanos. O tomador do crédito geralmente representa um coletivo e precisa de dois garantidores para acessar os recursos, seguindo o modelo de aval solidário. O BCP é uma Organização da Sociedade Civil (OSC), cuja atuação com microcrédito depende da legislação. Entre elas, destaca-se a Lei nº 13.019/2014 (Marco Regulatório das OSCs), que define os limites e possibilidades de ação dessas organizações, incluindo a atuação com microcrédito e moedas sociais. O microcrédito, por sua vez, é considerado um ator não humano, pois possui uma metodologia com agência própria. Em junho de 2025, o BCP reuniu-se com o Instituto E-dinheiro, que é uma organização dedicada a inclusão financeira, e o Laboratório de Informática e Sociedade (LabIS/UFRJ) para discutir a criação de um aplicativo de microcrédito. Descobriu-se que o Instituto já possui um protótipo, abrindo possibilidade de parceria para desenvolver e testar. A iniciativa visa ampliar o alcance, melhorar o desempenho e fortalecer o microcrédito nos Bancos Comunitários de Desenvolvimento (BCDs). O microcrédito continua relevante ao longo dos anos, sustentado pela crença de que pode transformar a vida de empreendedores. Tanto o BCP quanto uma rede de atores acreditam nisso.. O desafio é transformar o microcrédito de uma prática artesanal em uma tecnologia social robusta, acessível e escalável, capaz de gerar mudanças significativas em favelas e comunidades urbanas.
Geração Cidadã de Dados sobre a Baixada Fluminense – Clécio Cardoso Santos (COLÉGIO PEDRO II), Michelle Silvino Nascimento (Colégio Pedro II – Campus Duque de Caxias), Pedro Henrique Paixão da Silva (Colégio Pedro II – Campus Caxias), Jéssica Renata do Nascimento (Colégio Pedro II – Campus Caxias)
Não é de hoje que a produção e análise de dados é importante na sociedade. Através de dados, como os do Censo, podemos conhecer as condições de vida da população, identificar desigualdades e elaborar políticas públicas específicas para atender às necessidades sociais. Todavia, muitas vezes os dados são inacessíveis, inconsistentes com a realidade ou inexistentes. Partindo desse diagnóstico, movimentos sociais têm desenvolvido iniciativas de “geração cidadã de dados”, que consistem na produção ativa e consciente de dados para a transformação da realidade local. Esta comunicação oral visa compartilhar a experiência do projeto de iniciação científica “Geração Cidadã de Dados sobre a Baixada Fluminense”, realizado com estudantes do ensino médio integrado em desenvolvimento de sistemas do Colégio Pedro II, campus Duque de Caxias. A metodologia do projeto consiste em trabalhar concomitantemente, por um lado, a leitura crítica de textos sobre a importância social, política e econômica dos dados na sociedade contemporânea e, por outro lado, o desenvolvimento de uma plataforma para a geração cidadã de dados, articulando conhecimentos do curso técnico com uma aplicação socialmente engajada. Nos dois primeiros anos do projeto, os estudantes desenvolveram um site para a exibição em mapa dos dados da pesquisa Justiça Hídrica e Energética nas Favelas, realizada em 15 favelas do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense. Neste ano, busca-se expandir a plataforma para incorporar dados produzidos por outras iniciativas de geração cidadã de dados, como a plataforma Fogo Cruzado.