O trabalho de pesquisa demanda a organização, sistematização e análise de materiais heterogêneos, que hoje passam a incluir uma série de links, prints, pdfs, etc. O objetivo deste minicurso é apresentar modos de construção de um caderno de campo hyperlinkado que privilegie não somente a recuperação, mas principalmente “esfregações” criativas dos dados, entendidas como encontros inesperados entre informações heterogêneas que geram novos insights e conexões improváveis. O minicurso compreenderá os seguintes tópicos:
1) Pesquisar como constituir acervos – buscaremos incentivar as pessoas que participarem a pensarem seus cadernos de campo como amplas coleções dinâmicas, onde a organização não segue uma lógica rígida, mas sim um processo contínuo de experimentação e rearranjo. A ideia é que essas coleções sejam vivas, afetuosas e capazes de gerar surpresas mútuas, onde quem pesquisa e o material coletado se transformem mutuamente através do processo de organização e reorganização constante dos dados, criando um diálogo permanente entre ambos.
2) Organização do conhecimento e experimentação metodológica – tensionaremos as possibilidades teóricas de uma prática de organização do conhecimento que funcione aos modos da imersão etnográfica proposta por Strathern, ou seja, como algo que facilite “encontrar o que não foi procurado” (2014, p. 347). Desta forma, debateremos métodos de organização e análise de dados que sejam capazes de fornecer materializar em práticas concretas de organização de dados digitais pesquisas baseadas em teorias que privilegiem montagens, redes, malhas, composições, conexões parciais, difrações, etc., favorecendo a emergência de relações inesperadas e insights criativos.
3) Softwares de notas, o que são e porque usar – faremos uma breve apresentação dos diversos softwares disponíveis atualmente (Evernote, Google Keep, Notion, entre outros), destacando suas características principais e limitações, para então introduzir o software gratuito Obsidian (https://obsidian.md/), lançado em 2020 e que desponta como uma ferramenta de “mapa
mental” digital especialmente adequada para criar, organizar e analisar dados qualitativos de forma não-linear, permitindo visualizar as conexões entre diferentes conceitos e informações através de sua interface baseada em grafos e links internos.
4) Projetando estruturas de organização de dados digitais – apresentaremos lógicas de modelagem de estruturas de organização de dados, e demonstraremos algumas possibilidades que emergem a partir da utilização de recursos do Obsidian como, por exemplo, atribuição de tags, criação de hiperlinks internos, visualização por grafos interativos, sistema de autosugestão na escrita, utilização da linguagem de marcação de texto Markdown para formatação, entre outras funcionalidades que transformam o software em uma ferramenta de análise qualitativa e pensamento visual.
O minicurso será de caráter fundamentalmente expositivo, com discussões abertas e exercícios práticos. Porém, incentivamos fortemente que as pessoas que participem instalem e familiarizem-se previamente com o software Obsidian antes do início das atividades, testando suas funcionalidades básicas, e que também se sintam à vontade para experimentar possibilidades durante o minicurso, caso desejem aprofundar seu conhecimento sobre as potencialidades da ferramenta para suas pesquisas específicas. A ideia é criar um ambiente de aprendizagem colaborativo onde os participantes possam tanto absorver conceitos teóricos quanto experimentar na prática formas de organização hiperlinkada de dados digitais.
| Clarissa Reche Nunes da Costa (Coordenadora/Proponente) | UNICAMP |